Monday, April 2

Havelock - Picton; 36,7kms

Abril 02

So saio de Havelock a meio da manha. Um pesado ataque de preguica deixa-me estendido num "transat" a beber cha ao sol no deck do backpacker. A verdade e que poucos quilometros me separam do fim e falta-me coragem para acabar com a minha existencia de vagabundo auto-movido.

Dificilmente poderia ter pedido um melhor dia final para a viagem. Marlborough Sounds e uma enorme zona de mar abrigada, toda ela retalhada em finos "recortes", que fazem muito lembrar fjords torcidos. E tive ceu aberto, simplesmente decorado com meia duzia de cumulus fofinhos, uma leve aragem, e temperatura sempre fresca.


A estrada segue o rendilhado da costa densamente florestada, num sobe e desce que me faz trabalhar, mas hoje nao incomoda. Antes pelo contrario, pedalo forte nas curvas e contra-curvas para gozar o caminho. Como que para melhor sentir e gravar em mim a memoria desta viagem cujo fim acabo por acelerar.

Paro imenso para encher os olhos, tirar uma fotografia, observar a descolagem de um pequeno hidroaviao, ou a manobra de um barco.

Ha duzias de pequenas baias e enseadas polvilhadas de barcos fundeados. De vez em quando surgem diminutas praias douradas, como leves pinceladas de cor entre o verde forte da floresta e o turquesa da agua.
A estrada e tao enrodilhada que cada curva oferece uma perspectiva diferente, descobrindo mais um local escondido atras do proximo promontorio. Ha grupos de casas a beira-mar, e outras plantadas em andas a meio das enocstas escarpadas. De longe o meio de acesso mais eficiente sao os "watertaxis", rapidas lanchas de aluminio. Um paraiso maritimo, e ainda por cima no meio da zona mais solarenga da NZ.


Chego depressa demais a Picton, que e uma vila que nao seria nada nao fosse ser o porto onde chegam os ferries da ilha do norte. Trato de me instalar no quarto de hoje, despachos os afazeres domesticos e vou afogar as magoas (e repor calorias) com um solido "fish and chips".

Sem os quilometros diarios, ou mudo rapidamente de habitos alimentares ou vou arredondar muito depressa :) Amanha apanho o barco para Wellington onde vou passar a semana. Tenho curiosidade de finalmente ver uma verdadeira cidade kiwi, e ha imenso para visitar e fazer, mas mesmo assim ja estou com saudades de andar na estrada aberta.

Sunday, April 1

Cable Bay - Havelock; 64,9kms

Abril 01

Dificil arrancar de Cable Bay e dizer adeus ao Nick e a Jenny. Cada vez que me levantava, havia outro assunto de conversa que descolava, e estavamos a meio de discutir alternativas de enchimento de superficie de cascos quando a Jenny, nos lembrou que eu tinha de chegar antes do por do sol.

Ataquei Whangamoa Saddle que subia bastante mas de forma razoavelmente gradual, e logo a seguir mais uma portela menor. Uma hora e meia depois ja tinha o pior para tras e era so descer ou plano ate ao meu poiso para hoje. A estrada era bonita, esta zona e florestada por pinheiros muito grandes e a topografia cada vez mais "elaborada" a medida que se entra em Marlborough Sounds, da-lhe muito interesse sem criar demasiadas quebras de ritmo.

Paro em Pelorous Bridge para encher o "deposito" de bolos, cafe, quiche e gelado. Um casal de australianos quarentoes metem conversa por causa da bicicleta. Sao cicloturistas ferrenhos mas que este ano fazem ferias de carro porque ela engravidou de surpresa, e pela primeira vez, aos 40! Conversa puxa conversa e o meu "pitstop" acaba por se converter num almoco demorado mas muito engracado.

So para ver, decido acelerar os ultimos 20 kms ate Havelock, e as minhas pernas agora muito descansadas surpreenderam-me. Quase sempre acima dos 25, e longos momentos nos 28-30! Agora que finalmente construi uma base de forma decente, tenho pena de a perder. Tenho de arranjar solucao.

Amanha, so me faltam fazer 35 kms e estarei em Picton, o porto de onde sai o ferry para a ilha do norte. Na practica, e ai que acaba a viagem de bicicleta. Ja comecei a estranhar nao ter mais caminho para planear, mais kms para passar.

Nelson - Cable Bay; 24,5kms

Marco 30 e 31

Em pouco mais de uma hora estou em Cable Bay. E finalmente, tive o primeiro incidente mecanico: parti nao um raio, mas um "nipple" (as pequenas pecas que prendem os raios a jante). E claro que tinha de ser na roda de tras, e do lado da transmissao (sao os mais stressados por causa da assimetria de tensao). Nao e grave mas obrigou-me a extrair a cassette para substituir nipple e tambem o raio, cuja rosca nao estava em estado de ser re-utilizado.

Que spot! Estou instalado numa "cabana" no jardim de uma das casa mais bem localizadas que alguma vez vi.

Um alto em cima do mar, com janelas enormes cheias da vista de um pequeno estuario, a ilha de Pepin, e o mar aberto emoldurado de um lado pelas falesias da costa de Malborough Sounds. Um autentico jardim recreativo para pequenos barcos.



E depois eles teem dois barracoes cheios de kayaks variados e pequenos barcos de varios tipos. No meu dia de anos, damos meia volta a ilha com pouco vento mas um swell enorme, vemos focas a fazer a sesta, passaros e a vista incomparavel do mar e da ilha e dos passaros. Fazemos algumas passagens entre os rochedos, algo intimidante dada a rebentacao, e consegumos aterrar numa pequena enseada de calhau para esticar as pernas e comer. Tudo isto impossivel sem a enorme experiencia, e conhecimento intimo do local, do Nick. Um ex-Schlumberger com quem me dei lindamente, e um homem com uma vida de experiencia em tudo o que tem a ver com o mar, desde navios scientificos no mar do sul, a plataformas de petroleo, catamarans e canoas Aprendi imenso com ele sobre tantos assuntos em torno de estar no mar. Desde meteorologia, a concepcao de barcos, planeamento e gestao de risco em passeios de kayak, construcao etc.

A volta tenho direito a meia hora de instrucao em surf com kayak. Felizmente as ondas sao pequenas, porque nao e nada obvio com um enorme kayak de mar de 5 metros. Viro-me varias vezes, ate finalmente conseguir acertar com o "timing" e a tecnica de apoio na onda com o barco atravessado. Girissimo e o tipo de experiencia que nunca conseguiria adequirir sozinho. Unico ponto menos positivo foi ter pisado varios ouricos, com o qual passei uma parte do serao a escavar os pes para tentar tirar os picos...

Na manha seguinte fui "largado" num kayak mais desportivo dentro do estuario e fui brincar sozinho com o vento bastante forte. Fazer experiencias de equilibrio direccional com um casco que em vez de leme tinha um "skeg" ajustavel. Nunca tinha usado um barco assim e fiquei completamente conquistado: leve, manobravel, nervoso, mas tambem se consegue uma estabilidade direccional "de comboio" com afinacao do skeg, sem as complicacoes e vulnerabilidades dos lemes.

Com o tempo a estragar-se outra vez, passei a tarde e o serao a discutir barcos com o Nick e acabei convidado para jantar em casa deles para celebrar os meus anos! Simpaticos, ofereceram-me um livro do Bruce Chatwin que ha anos queria ler.

Resumindo, "my kind of place and people". Tive pena de nao ficar mais, e continuar a aprender.

Nelson

Marco 28 e 29

Encalhado em Nelson pelo mau tempo, uma frente lenta e fraca que mesmo assim encharca tudo. Nao tenho tempo suficiente para chegar a Motueka e voltar, mas tambem nao vale a pena ir ate Cable Bay para ficar la fechado dentro de uma pequena cabana.

Fui ao cinema para variar, e vi um filme sueco sobre musica numa pequena aldeia! Passei uns tempos nas livrarias a ler e cobicar livros. Consegui resistir, mas se a chuva se mantiver vou seguramente ter problemas de peso outra vez :)

Felizmente ha gente interessante no backpacker e vamo-nos entretendo entre conversa e idas ao pub.

Wednesday, March 28

Glenhope - Nelson; 82,5kms

Marco 27 e 28

Mais uma vez, cai na paranoia das conversas sobre as "enormes subidas a vir" com gente de Murchison. Ha duas "selas" para passar logo a seguir ao rio Hope, e isto num dia de 85kms, que segue quatro dias seguidos relativamente cansativos... Resultado, decidi deixar tempo para ir seguro e calmo e ainda nao eram oito da manha ja me tinha posto a andar.



Ate foi bom porque, embora estivesse francamente frio, o sossego foi delicioso, a pedalar devagarinho e sem transito nenhum, ouvindo o "dawn chorus" da passarada kiwi que ainda tem um som exotico para mim. As subidas nao tinham nada de especial, uma era algo mais comprida mas ambas bastante graduais e "possiveis" e as descidas eram enormes e muito divertidas. Daqui para a frente, indo eu para a costa, estava sempre mais ou menos a descer e nao demorei muito ate ter a minha primeira vista da costa norte.


Os "suburbios" de Nelson, para mim uma grande metropole de 40,000 habitantes, sao principalmente compostos de vinhas e quintas de produtores de vinho. Chega a um ponto e o transito comeca a incomodar mas e tambem ai que se entra numa ciclovia que me levou ate ao centro por um caminho sem carros que segue uma antiga linha de comboio. Cheguei pois a Nelson ainda antes das duas e meia da tarde.

O backpacker de Nelson e tambem uma casa, gerida por um casal de canadianos reformados, que puseram metade dos hospedes a cantar, guitarrar e ate havia um percussionista a serio com tambores. Parecia uma sessao de escuteiros para adultos :)

Mantem-se a minha admiracao com o funcionamento civilizado destas "pensoes" em que a sensacao e de se ser hospede em casa de conhecidos, cozinhando, lavando loica etc. E surpreendente como as pessoas se "portam bem": de facto esta sempre tudo arrumado e limpo, nao ha barulho, as conversas sao na maioria agradaveis e interessantes. Esta-se a anos luz do ambiente "caotico" dos albergues dos nossos tempos de interail. E verdade tambem que a idade media de frequentacao e bastante maior, mas mesmo assim e aqui que ficam tambem os jovens.

Como cheguei tarde a cozinha, houve alguem que, estando sozinho, tinha cozinhado para 3 e ofereceu-me o jantar. Vou ter de comecar a fazer isto de forma sistematica :) Um bretao, encantador que estava a trabalhar e fazer windsurf na ilha do norte. Tinha acabado de comprar uma velha bicicleta por 20 euros e decidido ir dar uma volta pelo pais. Em contrapartida estou a tentar arranjar um ou dois pequenos problemas mecanicos dele.

Finalmente, fiz aqui uma pausa enquanto tento organizar dois ou tres dias de kayak. E uma vila simpatica e ando-me a deliciar nas 4 livrarias. E nos cafes. Ha um que tem 5 ou 6 lindas Lambretta's restauradas penduradas na parede. Eu sempre disse que bons scooters sao objectos com valor estetico independente das capacidades dinamicas :)

E pronto, ja so tenho dois dias de estrada entre mim e o ferry para Wellington de onde apanharei o aviao para casa no dia 10. De vez em quando, vem-me a cabeca que tenho de me comecar a mentalizar para um regreso a vida "normal", mas sao pensamentos rapidos e muito fugidios.

Murchison - Glenhope; 44,6kms

Marco 26

A manha nasceu com Murchison, completamente dentro de uma nuvem pesada, e francamente frio. Para dar uma ideia pedalei a primeira hora com uma camisola "tecnica" mais um polar e nao derreti. Foi um dia relativamente curto porque ja so consegui identificar um sitio para dormir entre Murchison e Nelson, que nao acampar na floresta; opcao que tenho andado a evitar porque os sandflies continuam vorazes. Continuei pois a subir a garganta do rio Buller ate que, com as paredes ja perto da estrada, ela vira para um novo vale a nordeste e comeca a subir ao lado do rio Hope.

Aqui o ambiente e cada vez mais euro-alpino, com ainda maior preponderancia de coniferas e mais prados "semeados" de ovelhas e vacas. Devem ser do genero "patas de um lado mais curtas do que as outras" porque aqui as pastagens sao bastante ingremes. Vi bastantes rapinas a cacar incluindo duas que, pela forma de voo, juraria serem da familia das nocturnas. Mas elas nao sao activas durante o dia, ou sao? Nao devia ter deixado a Sofia em casa; a minha guia de campo tem-me feito imensa falta.

Desastre do dia, voltou a senilidade e deixei uma cerveja no frigorifico da casa de Murchison. Furia, andava a carrega-la desde Berlins para acompanhar o jantar! Mas desta vez nao voltei atras.

Pouco depois do inicio do vale do Hope, saio da nuvem e tiro o polar, mas por mais que me esforce a subir, continuo muito confortavel ao sol com a minha camisola de mangas compridas preta! E preciso ter cuidado com o buraco kiwi na camada de ozona; ja tive muitos dias ca em que o sol queima sem aquecer significativamente.



O meu poiso para a noite e uma casinha encantadora a meio de um prado ingreme (quase que cai a empurrar a bicicleta ate a porta...). Os donos sao um casal dos seus trinta anos, ciclistas ferrenhos, que acrescentaram o seu "bikepacker" a agricultura. Como estava sol e imenso vento aproveitei para lavar TODA a roupa que tinha.

Imaginem a sensacao quando, vestido com as unicas duas pecas que nao tinham ido lavar, fui apanha-la ao estendal e nao estava la nada. Obviamente, nao era roubo, mas engano porque ninguem normal teria interesse pelos meus poucos farrapos. Como a unica forma de nao ter toneladas de malas e levar muito poucas mudas de roupa e lavar muito o que, combinado com o desgaste acelerado de viver no exterior, acampar etc, faz com que o desgaste acelere... O meu medo era se nao se desse pelo erro a tempo. Ao fim da tarde la se decobriu que tinha sido uma vizinha que para ajudar os donos da casa, tinha apanhado a roupa deles (e inconscientemente a minha) para que nao se molhasse ao entardecer. Ri-me imenso mas eles ficaram enfiadissimos, e ofereceram-me uma cerveja de reposicao :)

Sunday, March 25

Berlins - Murchison; 65,3kms

Marco 25

Um dia mais duro. Comecei tarde porque nao acordei a horas, em parte por cansaco dos dois dias anteriores, em parte porque acordei de madrugada com comichoes das dentadas dos sandflies.

O tempo esteve bom: frio, mesmo ao sol, e o sol desapareceu a meio do dia, mas sem vento nem chuva. Hoje em dia, a minha definicao de bom tempo e como a do filme escoces: se a chuva nao esta na horizontal, esta tudo bem.

De manha a humidade do rio, fazia bandeiras de bruma engracadas que cortavam a paisagem as fatias. A estrada continuava a subir o rio Buller por entre o labirinto de vales e linhas de agua, com raros "flats" a abrir o horizonte. Resultado bonito com as encostas escarpadas cobertas de vegetacao e agua a pingar, e o rio as voltas ora ao nosso lado, ora la em baixo. Mas dificil para pedalar. O caminho enrodilhado esta sempre a subir e descer o que faz com que nunca chegue a aliviar as pernas, e entrar naquele ritmo suave e constante que e o que faz desaparecer os quilometros num agradavel zumbir de pneus. Passo a vida a trabalhar com as mudancas, de um extremo ao outro, e com as pernas em esforco. Resumindo: moi, e depressa.

Hoje domingo, meio solarengo, a estrada estava cheia, mas cheia, de motos aos enxames. Surpreendente a proporcao de Ducati's ao ponto de me perguntar se seria um rali de alguma especie. Pela primeira vez desde que comecei a viagem, tive uma pontinha de inveja de alguem na estrada, tambem me apeteceu brincar de moto. E particularmente tive saudades daquela tecnica de subida de lombas por simples rotacao do pulso...


Durmo em Murchison, importante centro de pesca desportiva e canoagem de aguas brancas, o que quer dizer que tem um pub, tres cafes, um dairy e um minimercado! Amanha vou dormir numa quinta mais acima. Nao "tem" aldeia mas tem o enorme atractivo de ser o unico sitio onde encontrei forma de dormir abrigado entre aqui e Nelson :) Vou mesmo ficar la duas noites para descansar as pernas antes dos 90kms finais que envolvem passar duas portelas razoaveis antes de finalmente comecar a descida para a costa norte.

Saturday, March 24

Punakaiki - Berlins; 74,8kms

Marco 24

O tempo continua perfeito, e hoje ha vento de sul para ajudar! Continuei a seguir a estrada da costa em cima do mar, esplendorosa com a bruma ofuscante no sol ainda baixo. Hoje porem, tanta beleza tinha preco na forma de um percurso muito mais acidentado com imensas subidas bastante ingremes que me arrebentaram completamente com a media! Mas que valeu a pena, valeu :)



Inevitavelmente, cheguei ao ponto onde tive de virar a direita e comecar a subida do vale do rio Buller que me vai levar quase ate a costa norte onde conto "aterrar" em Nelson, uns 250 kms depois de deixar Westland.


E um vale bonito, muito verde mas nao sei porque ja nao me faz uma impressao "tropical". Se calhar sao as montanhas de relevo abrupto que rapidamente se comecam a aproximar. Mais uma vez, mesmo a ritmo de pedalada, a paisagem mudou como que instantaneamente de costa selvagem para montanha florestada. O rio a este nivel ja corre com forca, mas ainda esta verde e sem rapidos.

Cruzo-me com um senhor de idade a descer em sentido contrario, tambem de bicicleta carregada. Nao contente com a habitual troca de cumprimentos ciclisticos em andamento, atira-se para a minha faixa, atravessa a bicicleta a minha frente e obriga-me a parar. O alemao reformado quer mais conversa e trocamos relatos e informacoes sobre o que cada um tem pela frente e finalmente la me deixa continuar a minha subida.

Durmo num bar manhoso em cima da estrada. Nao ha escolha, tenho 75kms dificeis nas pernas e nao estou prestes a mais 60 ou 70 a subir ate a proxima aldeia.

E ainda por cima, tiveram a lata de afixar o seguinte na porta:



Friday, March 23

Hokitika - Punakaiki; 84,3kms

Marco 23

Nao tinha forma de saber, mas este foi o dia que me fez vir ao West Coast. Que dia.




Logo de manhazinha, ja estava sol e uma leve aragem de Sul, finalmente. Arranquei que nem um foguete para aproveitar ao maximo antes que se estragasse, e cheguei a Greymouth, quase 4okms, em menos de duas horas!

Como o nome sugere, trata-se de uma vila maioritariamente cinzenta, mesmo com nesta manha radiosa, excepto o cafe onde paro que estava pintado de verde lima berrante. Um excelente latte e um melhor e colossal brownie, e ja tinha calorias para me chegar ate Wellington :)



Comecou ai a mais bonita estrada de costa que se pode imaginar. Eu tinha visto fotografias mas ao vivo e melhor, e era tudo como imaginava. recortada por falesias, rebentacao tripla, com rochedos enormes e falesias cobertas de vegetacao. So tenho pena que a bruma no ar, e a minha falta de jeito, tenha feito com que nao conseguisse fotografias que facam justica a paisagem.



Umas horas mais a frente, um ponto de venda de gelados coincidia, nao por acaso, que os Kiwis sao muito profissionais na extraccao do dolar turistico, com as "Pancake Rocks". Nao me fizeram nada pensar em panquecas, e eu penso facilmente em panquecas, mas eram lindas mesmo assim. Uma zona de formas complexas em rocha muito estratficada em camadas muito finas, ca para mim mais para o lado da massa folhada.



Dormi num backpacker que talvez tenha sido o mais interessante, bonito e agradavel de todos. Tinham uma serie de pequenas casas de madeira em andas literalmente enterradas na floresta. Estamos a falar de floresta impenetravel, o acesso faz-se por caminhos em tuneis mantidos na vegetacao, com pequenos candeeiros no chao para iluminar. So se ve o "poiso" quando se chega a porta, e nao ha forma de ver ou ouvir as outras casas. Genial estar na varanda, um deck suspenso no ar, com os fetos a invadirem e a quase a sentir o aperto das arvores.


Passei um serao simpatico a aprender sobre os aborigenes australianos com um australiano que trabalha com eles numa area enorme num raio de 1000kms a volta de alice Springs. Aprendi mais numa noite do que numa vida de ver documentarios. Sobre a visao do mundo e existencia que evoluiram naquele ambiente terrivel. Percebi melhor a total inadaptacao ao mundo ocidental, nao so do seculo XXI mas provavelmente varios mais anteriores, da sua forma de ser, personalidade, cultura e valores. Nao admira que ninguem saiba o que fazer.

Wednesday, March 21

P.S.

Ja consegui extrair as fotos dos ultimos 3 dias mas ainda nao tenho acesso a um upload decente.

Check back later :)

p.

DONE

Como podem ver ainda estou a trabalhar no mapa. Talvez acabe antes de chegar :)

p.

Kakapotahi River - Hokitika; 45.6kms

Marco 21 e 22

Vem ai uma tempestade acompanhada de vento forte do norte (mau) e tenho de me despachar para chegar a Hokitika antes que tudo isto se abata sobre a minha cabecinha. Ai poderei esperar a distancia certa de Punaikaiki, a proxima paragem.

Arranquei por isso motivadissimo para andar depressa, mas a estrada estava cheia de "faux plats" ao ponto de me comecar a preocupar que estava a ficar doente, "gasto" ou a nao comer o suficiente porque nao avancava! Demorei uma hora a perceber que era a topografia. Uf. Duh!

Vim parar a mais um backpacker divertido, recomendacao dos meus amigos de ontem.


Hokitika e uma das "grandes" vilas da Westland mas nao passa muito de uma quadricula de 3x3 ruas, aparentemente totalmente dedicadas a venda de artigos de jade e outro artesanato. E o centro de extraccao de jade do pais, e abunda em "imbambas".

Tem tambem uma pequena barra de rio que me cheira a perigosa nas condicoes erradas, com uma solida rebentacao na praia desolada, onde alguem estava a fazer bodyboard no mar escuro, e uma praia infindavel de areia escura.




p.s. Passei hoje os 1,500kms, comeca a haver uma leve impressao de viagem a procura de um fim...

Franz Josef - Kakapotahi River; 92.0kms

Marco 20

Um dia cinzento com boas possibilidades de melhorar! Sai cedo porque tinha 95kms para fazer ate ao sitio onde queria dormir. Foi um dia mais para ciclismo do que turismo. A NZ tem tanta paisagem verdadeiramente extraordinaria que fica-se rapidamente blase e ja nem comento para mim proprio o que e simplesmente bonito e tranquilo.


Hoje o caminho sai outra vez das montanhas e volta a planicie costeira, embora sobrem sempre uns "dedos" espetados para nao haver risco de eu me esquecer onde estao as mudancas curtas. Como esperado, as 11 apareceu o sol por mais do que cinco minutos seguidos, mas as nuvens nao se retiraram tao facilmente, ficando a pairar nas montanhas e dentro de alguns vales, de onde estavam a planear um contra-ataque.


Hoje comecei a entender que aquilo que, para nos "magrebinos", sao bonitos prados verdes, podem ser vistos como o resultado da voragem "pastante" do gado ao longo dos anos. Desertos verdes onde antes havia variedade e riqueza de vegetacao e fauna. Percebo os ecologistas locais, mas mesmo assim, nao esta mal...

Despacho a primeira hora e meia a uma media de mais de 20kmh, e fica definido o mote do dia em que vou lancado de um ponto de alimentacao ao proximo :) Primeira paragem Whataroa onde tomo o cafe e passo uma hora em amena cavaqueira com um "colega" canadiano que vai em sentido contrario. E o primeiro cicloturista que vejo que anda mais leve do que eu, com uma bicicleta de corrida e dois sacos pequenos. Gosto bastante do conceito, porque e bom andar depressa, mas ele nao tem material para acampar,nem as minhas reservas de comida, o que lhe corta bastantes opcoes.

Mais 30 kms, igualmente rapidos e vou ao tipico snack kiwi em Harihari: "a pie, a slice and a smoothie". O primeiro e tipico da zona com bife e pimenta, o segundo e um bolo ultra-calorico, e o terceiro um batido de fruta.

E ainda passei pelo Bushman's Centre em Pukekura, com uma colecao de cartazes, bastante de humor ANZAC...



A seguir ha que passar o Mt. Hercules e mais uma serrita menor e chego ao Old Church Hostel, casa de madeira totalmente isolada ao lado de um rio que espalha os seus rapidos ao fundo do jardim.

Uma ideia tipica da pancada e teimosia desta gente: a casa era a antiga igreja da aldeia de Ross, que um maduro comprou, pos inteira em cima de um camiao, e re-plantou ali. Casa linda, com lareira gigante, cozinha espectacular, e equipada com cachorro labrador e gato a dormir. Tudo isto com vista solarenga atraves das bonitas janelas antigas para o jardim e para o rio.

Poucos hospedes; o John um farmaceutico chines de londres, cujo hobby e cozinhar oferece-me um jantar excelente em troca de eu lavar os pratos, negocio que aceitei com agrado e grande beneficio. Dois outros personagens explicaram-me mais um emprego inedito: estes senhores sao apanhadores de "sphagnum moss" um musgo super-especial que cresce nos pantanos desta zona e e comprado por 11 dolares o kilo por criadores de orquideas japoneses.


Que dia fantastico: bom tempo, objectivos bem cumpridos com 95kms avancados em optimas condicoes, super jantar e, por fim, esponjar a ler a frente da lareira a ouvir musica da minha infancia escolhida entre uma coleccao de literalmente centenas de discos vinil. Quase que decidi ficar mais um dia mas precisava de aproveitar a abertura no tempo porque vem ai mais um troco comprido.