Makarora - Haast; 78,2kms
Marco 15
Como que por milagre acordo muito cedo para um ceu totalmente limpo que explica que o frio se tenha mantido: 3 graus durante a noite. O barometro subiu 13mb durante a noite! Nao sei bem como interpretar, mas nao chove, nao ha vento de nota, e com 80kms e o Pass de Haast pela frente saio ainda antes das nove sem me fazer demasiadas perguntas.
Nesta manha linda, continuei a subir o vale do Makarora deliciado com o silencio devido a ausencia de transito. Em contraste com a zona de Wanaka, aqui as montanhas estao cada vez mais florestadas e o tom dominante e o verde escuro, mas sempre bem temperado pelo branco da neve nos altos.
Sendo a passagem mais baixa para atravessar a cadeia dos alpes do sul, a portela de Haast nao tem nada de especial em si, salvo uma placa que indica o fim de Otago e o incio de Westland.
So que hoje tenho um problema, esta mesmo frio e nao consigo suportar o efeito do "windchill" nao so nos pes, maos e cara mas tambem no corpo, o que ja nao tem graca. Assim, com alguma tristeza, passei as proximas 4 horas a travar nas descidas e desacelerar ao sol para nao congelar e aquecer respectivamente. Duas decisoes de equipamento ajudaram-me: em Queenstown tinha investido numas super-meias de la xpto que de facto provaram ser eficazes, e o nao cortar da barba salvou-me de muito desconforto na cara.
Nao estou equipado para manutencao de barba. Consigo manter o bigode fora da sopa usando o canivete suico, mas o resto nao ha hipotese de manter decente. Ou deixava crescer ou rapava tudo de vez em quando, o que me parecia pior, e muito trabalhoso em alguns dos sitios por onde durmo. Obviamente que optei por deixar andar. Com o aspecto que terao as minhas roupas apos dois meses de uso continuo, sera que me arrisco a ser preso por taliban em LA?
Depois do pass, a descida e feita pelo vale de um afluente do rio Haast, e antes de comecar a serio tem toda uma serie de "flats", pequenos prados em altitude, pacificos encaixados entre ceu e montanhas com o ruido do rio a correr nas pedras. O silencio e inebriante, e nao fosse o frio ter-me-ia sentido tentado a passar uma noite la em cima.
Mais abaixo, o afluente encontra o principal e vira a oeste para os ultimos kms direccao a costa, mas antes passa por uma ponte bonita entre paredes rochosas chamadas The Gates of Haast. Ca mais para baixo, a vegetacao parece ter engolido soro de mutacao e nao fosse o frio estariamos num sitio tropical. E desconcertante esta floresta quando ainda se veem montanhas com neve ao olhar para tras. Nem quero pensar na quantidade e frequencia de chuva necessaria para manter tudo isto assim... As cataratas sao muitas, e quando naos as ha a aqua escorre rocha abaixo ao lado da estrada. A medida que o sol vai levantando tudo isto larga vapor, e parece autenticamente tropical.
A 5 kms da costa, chegam as nuvens e algum vento e, a medida que desaparecem as ultimas montanhas, fica tudo cinzento, mas mais quente. Paro em Haast para dormir ainda sem ter chegado a ver o mar de Tasman, nao ha mais nada em dezenas de kms. Alias esse vai ser o desafio desta costa muito pouco habitada: conseguir chegar de um ponto ao proximo num so dia de pedalar. Entre isso e a previsao metereologica que da chuva ate a semana que vem, temo que se avizinhem dias menos confortaveis.
Conheci aqui um jovem suico que anda a fazer o mesmo percurso que eu mas a um ritmo de exactamente um dia por cada dois dos meus. Simpatico, mas um verdadeiro animal; odioso :)
Para quem tiver curiosidade e mapas o plano imediato e relativamente simples: percorrer a estrada da costa ate Westport com possiveis paragens/descanso e turismo num dos glaciares (Fox ou Franz Josef) e Hokitika.