Friday, March 2

Dunedin; "Edinburgh do Sul"



Marco 2 e 3



Bom o principal ja esta: tenho a bicicleta em estado de continuar e ja tratei da saida. Agora posso disfrutar de mais um dia a deriva.

Os da loja foram impecaveis a comecar pela chefe dos mecanicos que era uma menina australiana, sim que isto aqui os cromossomas X e Y influenciam pouco a profissao. Ja vi mulheres pintoras e carpinteiras a trabalhar nas obras, montes de taxistAs... Emprestaram-me o que precisava e um canto de oficina, e deixaram-me em paz para desmontar e instalar o necessario. A bicicleta ficou optima, ja me tinha esquecido como uma transmissao afinada e em bom estado tem um funcionamento suave e silencioso. A tal ponto que ia atropelando uma senhora que atravessou a minha frente sem olhar... Estou, sem grande sucesso, a tentar adaptar-me a transito e circulacao de cidade mas ainda estou muito camponio.

Os carros sao realmente inesperados, esta cheio de japoneses "tuning-ados". Imprezas de corrida, Skylanes e outros Hondas e Mitsubishis cheios de asas, saias, jantes, escapes do diametro de esgotos, estereofonias demolidores e adolescentes borbulhentos. Aqui guiam a partir dos 15 e passar a carta e um sistema comprido de exames teoricos, SO. NAO HA EXAME DE CONDUCAO! Como guiam a esquerda, e teem uma politica de tarifas alfandegarias baixas, devem beneficiar do mercado japones na compra de bombas que raramente chegam a europa.

Hoje, sexta a noite parece um filme americano, com os miudos em pleno "cruising" nocturno os carros cheios de malta, a "musica" a entornar ca para fora, e algumas bocas de passagem. Ate um Bel-Air vi passar, resplendente com as suas barbatanas. Uma coisa mostra que estamos no seculo 21: quando olho para dentro dos carros vejo frequentemente 4 ou cinco pontos luminosos que sao os ecrans dos telemoveis acesos enquanto cada um liga para fora do carro.

Alternativamente, e mais ao meu coracao, veem-se imensos calssicos amorosamente restaurados, que parecem rondar em manadas: ja por tres vezes fui ultrapassado por caravanas de carros antigos (uma vez MG's variados, outra meia duzia de Triumph TR e, finalmente, um pequeno grupo de Austin-Healeys). Tambem ja vi Mercedes anos 50, Morris Minor, carochas e bastantes Figaros e S-Cargos, e inumeros muscle cars americanos.

Depois de duas semanas no campo, Dunedin tem um impacto citadino, mas na realidade e um centro bonito de ruas e lojas com edificios baixos, alguns de arquitectura edwardiana bastante bonita. Absorve-se o centro em dois dias, e uma tarde na zona comercial e o suficiente para comecar a re-encontrar as mesmas caras na rua. A serio.

Ha restaurantes de tudo, ja jantei Khmer e Turco. No ultimo tinham pilhas de livros velhos sobre a Turquia para os clientes lerem. Li o primeiro capitulo de um em que o autor analisava se os Turcos podiam ou nao ser considerados europeus; religiao, presenca historica e relacao com a europa crista, origens das varias etnias, cultura etc. Tratando-se do correspondente do Times em Istanbul nos anos 60, foi engracado ver que, como nao podia deixar de ser, as questoes principais se manteem.

Como tem a universidade mais antiga da NZ, tem finalmente livrarias decentes e nao resisti, tenho mais tres livros para transportar. Depois tenho de mandar para casa por correio, e uma forma estupida e cara de comprar livros mas e mais forte do que eu, tenho de poder ler um bocadinho.

Vou de facto sair no Domingo pelo Taieri Gorge Railway ate Middlemarch a sessenta e poucos kms, onde recomecarei a pedalar. Dai, 4 a 5 dias por Cromwell ate Queenstown ou Wanaka, ou talvez as duas. O planeamento como se ve, e "flexivel" para adaptar ao tempo, pernas, humor etc. mas a direccao geral e conhecida, que e o que importa.

Thursday, March 1

Waikouaiti - Dunedin; 47.4kms

Marco 1

Como ontem, fui pela "scenic route" evitando o transito pesado da SH1 e ganhei uma paisagem deslumbrante desta costa acidentada cheia de baias e rios e falesias e florestas, com lagoas recortadas a brilhar cada vez que o sol sai das nuvens. Fantastico. Aqueles que estao a pensar na volta de motorhome (e sei de 2 familias nessa fase) passem por aqui.

Nao se ve nas fotografias: o vento continua de cortar e a topografia a moer as pernas, a media e a paciencia.

Dunedin e uma cidade que tem de se merecer. Pelo menos para os ciclistas. Esta aninhada num circulo de montes ingremes, ao fundo de um espectacular porto natural na raiz da peninsula de Otago. Qualquer acesso passa por cima de algo.

No meu caso, que vinha de norte, foi o monte Cargill que envolveu 8.5kms de subida ininterrupta! Uma hora a pingar encosta acima e a corrente a saltar quando mais estorvava. Emfim, para mim, que nao tenho as pernas do google, foi epico.

Mas quando pensava que ja nao dava mais, cheguei ao alto e abriu-se todo o porto de Otago aos meus pes e a serio que valeu a pena. Vi as povoacoes salpicadas no verde, rendilhado pelo mar e parei a apanhar frio e a sorrir como um idiota. Fotografias pessimas por causa da nevoa... A seguir, a enorme descida (quase 9kms) ate ao centro da cidade repos parcialmente a media e totalmente a minha boa disposicao. Ate me piquei com duas Harleys a descer - brevemente :)

Um pouco lamecha eu sei mas quando cheguei ao centro de Dunedin, acabei a primeira etapa, e senti que tinha feito qualquer coisa. Eu sei que tive sorte com o tempo, que ainda nao cheguei a parte dificil da ilha, e que ainda so foram 740kms, mas foi como que um pequeno sucesso.

E pronto. Ja encontrei uma corrente, e encomendei um prato 32T do BCD certo que deve chegar amanha. Ja convenci uma loja de bicicletas a emprestar-me um saca para tirar a manivela e substituir tudo. (objecto pesado e pouco usado que deixei em casa)

Dunedin e uma das "grandes" cidades (pop. 120,000) e vou ca ficar dois dias inteiros para visitar e preparar a proxima etapa: atravessar a ilha ate Haast via Wanaka e Haast Pass. De la comeca a estrada que leva para norte na costa oeste. Nao sei ainda exactamente por onde vou e se farei alguns saltinhos/desvios ate Queenstown (capital mundial do disparate radical) ou talvez Te Anau ou Milford Sound.

Oamaru - Waikouaiti; 78.8kms

Fevereiro 28

Comecou mal, melhorou, ficou dificil, acabou assim assim e amanha vai ser pior.

Sai cedo de Oamaru mas repeti o numero do carregador e hoje perdi quase uma hora e meia nas boleias de recuperacao. Uma boleia foi com um Maori enorme, parecia que ocupava sozinho dois tercos do carro de 4 lugares. O carro era uma desgraca, o homem tinha pior aspecto que eu, mas descobri que era consultor de PME's e tivemos uma divertida troca de impressoes. mesma linguagem e problemas iguais so o aspecto dele era mais confortavel :)

Retomando caminho, mesmo com o vento do contra, os primeiros 30 kms ao longo da costa foram de uma beleza de fazer esquecer o resto. Dali para este nao ha nada ate ao Cabo Horn, muitas, muitas milhas distante, e sente-se no peso do vento e das ondas. Visitei os famosos pedragulhos de Moeraki que a mim me lembram os ovos do primeiro Alien; eu se fosse aos kiwis tinha mais cuidado. E claro que so la vao turistas pelo que talvez eles ja tenham percebido.



E depoids o vento foi refrescando... Passei o dia quase todo de luvas termicas, sempre com a camisola mais quente e o corta vento. Otago e muito mais ondulante do que as planicies de Canterbury onde as subidas eram mais mudancas de plano do que ondulacoes. Aqui e curto e ingreme e nao e para chegar a lado nenhum! Fico com as pernas a arder e depois perde-se tudo numa curta descida congelante, para recomecar. Cansativo e, porque estava assim disposto, irritante.

E depois, tenho a corrente e o chainring do meio (em portugues?) nas ultimas e a transmissao comeca a saltar nos momentos mais inconvenientes. Minha culpa por ter decidido nao mudar tudo antes de estar completamente gasto (forreta morrerei). Ja tive de re-fechar um elo, com muita sorte da corrente nao se ter aberto em andamento. Em Dunedin resolvo mas tenho de ter cuidado e evitar o prato do meio e/ou defleccoes maiores, o que me faz usar mudancas que nem sempre sao as que quero.

Acabei acampado num sitio bom, mas onde parece que as caravanas vao para morrer: havia muitas, todas limpas e fechadas. Unicos habitantes deste sitio enorme 3 ou 4 casais de idade que pareciam estar a espera do mesmo que as caravanas. Depois cortei uma fatia da ponta do polegar esquerdo a picar cebola para a papa da noite... Comeca a estar frio a noite, 8 graus dentro da tenda mesmo comigo la dentro a aquecer. Tenho de pensar se nao estara na altura de virar para oeste, ja estou quase a 46 graus de latitude sul e nao trouxe o saco cama para isto!

Enfim, uma data de lembretes que isto nao e um passeio de fim de semana, e que nao posso descurar o descanso, nem deixar escorregar a atencao. Quando tudo parece demasiado facil, e porque me esqueci de verificar alguma coisa :)

Tuesday, February 27

Oamaru; 0 kms

Fevereiro 27

Um bom dia para fazer aquilo que faco melhor: nada. Com quase 220 kms nas pernas nos ultimos 3 dias decidi descansar mais um bocadinho a ver se passa a chuva. Montei um cavalete na bicicleta, para nao estar sempre a rocar os alforges encostando-os a tudo, e andei por ai a viver a vila.

Cada vez me habituo mais a minha condicao deambulante. Monto a minha sala ou ecritorio onde for bom, e der jeito. Escrevo num cafe, leio numa sala de informacao, faco contas na cozinha e planeio a rota num jardim. Como em todo o lado e a toda a hora.

Oico e sinto a vida a fluir a minha volta como um zumbido de fundo. Maes a discutirem os detalhes dos campeonatos em que jogam os rebentos; turistas a trocar dicas; pequenos comerciantes a falar dos seus negocios; discussoes sobre rugby; muita conversa de obras, precos e hipotecas de casas. Nao ha duvida que cada vez mais existem universalidades partilhadas, para alem das biologicas.

Nao estava a espera, tratando-se de um pais com cultura tao anglicizada, mas ha cafes por todo o lado na NZ o que ajuda bastante. Imensos sao modernos, bonitos, bem decorados e, maravilha das surpresas, a maioria tem bom cafe! So e pena o preco, mas... Ficariam lindamente em Lisboa, tal como os novos cafes que comecam a surgir no Chiado.

O "Steam", cafe onde estive a escrever, acaba de ser vendido. Os antigos donos vao para a Australia, e estao a passar a pasta a nova proprietaria, apresentando clientes regulares e dando-lhe dicas sobre como aumentar a receita em cada pedido. Dizem-me que o boom dos cafes na NZ data dos ultimos 10 anos. Os kiwis parecem ter uma relacao com a Australia parecida com a nossa com Espanha, mas com menos sofrimento de inferioridade, pelo menos que se veja a olho nu.

Mantenho a impressao inicial de que os turistas sao predominantemente mais "velhos", ou entao sou eu que ja nao ando pelos mesmos sitios :) Mas a verdade e que, mesmo nos terrenos mais basicos onde se pode acampar ou parar o campervan por trocos, ha muita gente "prateada". O custo da passagem ate ca sera parte da resposta mas nao sei se a unica. Pending further investigation, uma coisa e certa: ou o pessoal fica com aspecto envelhecido mais cedo, ou isto esta cheio de velhos muito activos e energicos.

Diverti-me tambem a falar com o dono de uma padaria/boulangerie na parte recuperada da vila. Namorado da gerente do backpacker onde estou instalado, esta a preparar-se para acrescentar cafe ao seu negocio numa tentaiva de puxar mais trafego. Eu acho que ele tem uma boa localizacao para daqui a cinco anos quando a zona onde esta a loja estiver pronta mas ate la nao se safa... Previsivelmente, atributos que eu vejo como uteis no sistema hoteleiro barato, ele ve como entraves a captacao de receitas adicionais do turismo:) Explica-me tambem as tensoes entre as varias faccoes envolvidas (camara, retalho, grupo de conservadores) e as pequenas corrupcoes locais. Parece que aqui os contratos de restauro da camara tambem vao para os irmaos do presidente, e que as negociatas de terrenos que passam a ser "construiveis" requerem pelo menos um accionista vereador. E como digo, ele ha muitas coisas universais.

E e um mundo pequeno. Conversei tambem com um cacador de veados reformado. Nao se parece nada com o do filme da nossa juventude. Muito pequeno, bigode grisalho, pouco cabelo, bracos que pareciam as minhas pernas. Agora tem uma loja de continhas e colares, gerida pela mulher, e esta a lancar-se na representacao de uns hamacs americanos todo tempo para bivouac bastante conhecidos por quem segue essas coisas. Descreveu-me a caca com helicopteros que os kiwis usam bastante, e falou-me das diferencas de valor da carne de veado selvagem. Contou-me tambem que ha uns anos quando trabalhava como guia em Te Anau, no sul profundo, conheceu um senhor portugues. Conversa puxa cerveja e chegamos a conclusao inequivoca que se trata de Patrick Monteiro de Barros de passagem no seu fantastico veleiro.

A chuva parou, mas esta uma ventania de SE de fazer tremer as janelas. O que e uma pena porque e para la que vou. Os 130kms ate Dunedin, a capital de Otago, vao ser desportivos, para nao dizer que se arriscam mesmo a ser sofridos. A minha ideia era demorar dois dias ao longo da costa, mas nao estou nada seguro que acabe assim.

Depois mais um dia de descanso :) para visitar Dunedin. Entre outros atractivos a fabrica da Speight, a melhor cerveja que por ca provei ate agora. A seguir comecam as coisas serias a caminho de Queenstown e Wanaka, que sao estao as portas da passagem para a costa oeste que e considerada a zona selvagem.

Monday, February 26

Duntroon - Oamaru; 43.0kms

Fevereiro 26

Uma ventania de NW, com sol e ceu aberto fez com a minha saida de Duntroon fosse como que de moto. Por uma vez com vento a popa fiz, sem esforco especial, os primeiros 30 minutos a uma media de 30kmh! Infelizmente, a medida que me aproximei da costa o vento foi amainando ate que, num malfadado sitio chamado Peebles, entrou uma brisa de mar de SE. Forte, humida, fria, sentia-se bem que era ar que vinha do mar que tambem banha a antartida. Os ultimos 11 kms foram mauzotes e parei duas vezes para acrescentar camadas.

E pronto, duas semanas depois de Christchurch, eis-me outra vez num centro "urbano" (pop. 13,000) maiorzinho a adaptar-me a vida citadina.Oamaru tem lojas, supermercado e edificios formais sec.19 em pedra calcaria, e vou dormir num hotel que nao se parece com a casa de alguem.

Dito isto, estamos a falar essencialmente de uma grande avenida principal em que, se sairmos um ou dois quarteiroes na perpendicular, damos com o mar de um lado e o campo do outro. As lojas sao todas corridas por uma enorme pala que nao deve ser so para proteger do sol.

Antes que me esqueca, agora que voltei a cidade quero corrigir os comentarios feitos em Christchurch sobre a indumentaria dos kiwis. Beneficiando das duas semanas de observacao, estou agora em condicoes de afirmar que o kiwi urbano e uma dandy vaidoso comparado com os primos rurais.

Estou contente de aqui estar, ja tratei da bicicleta (encontrei mesmo, por trocos, uma peca que tinha mandado vir dos USA e que nao tinha chegado a tempo) e vou ver se consigo avistar os famosos pinguins residentes.

Consegui sem dificuldade mas apanhei a primeira molha seria da viagem. Os pinguins sao queridos, mas nao se chamam SMALL blue penguins por acaso.

Meia hora no lounge a por a escrita em dia deu para perceber que a observacao de turistas comeca a tornar-se repetitiva ao fim de somente duas semanas. Casal de Birmingham em que ela nao se cala queixa-se da vida e mundo em geral a casal de holandeses mais novos que respondem que a holanda tambem e uma chatice. Nem uns nem outros precisavam de vir ate aqui para perceber isso, mas ao naop conseguirem deixar para tras nao estao a conseguir tirar prazer da viagem, que discutem como se tratasse de uma lista de compras.

Nao ha duvida que, as pessoas mais curiosas e engracadas se encontram na rua e ao ar livre.

Omarama - Duntroon; 79.3kms

Fevereiro 25

Estava fresco, quase frio, quando sai de manhazinha de Omarama mas a subida ate Ahuriri Pass tratou logo de fornecer aquecimento. O curso do rio Waitaki esta muito diferente do original devido a enormes alteracoes e duas barragens para geracao hidro-electrica. Mesmo assim, hoje sao uma serie de lindos lagos que percorri desde Benmore a Waitaki, com uma agua ja mais escura como que a sombrear os montes castanhos.

Pouco a pouco o vale foi abrindo ate que acabou verde, numa zona de pomares onde pude comprar fruta fresca, e seca, directamente aos produtores que teem lojas na estrada.

Parei para comer em Kurow, mais um exemplo de STNZ (small town New Zealand) e sento-me na esplanada a ver passar o transito, escasso, e a apreciar as quantidades industriais de gelado que os kiwis consomem a qualquer idade.

Com o tempo instavel, o que estou a aprender e o normal, tive a sorte de ter vento meio-a-favor e continuo maravilhado com a variedade do ceu NZ. Nao e so aquela sensacao de horizonte mais longe do que o habitual, de vastidao, e tambem a incrivel variedade de tipos de nuvens que se conseguem ver em simultaneo. Lembra aqueles posters das aulas de meteorologia feitos com fotomontagems de todos os tipos de nuvens com os nomes em latim.

Tinha decidido parar em Kurow para nao exagerar com as pernas, mas nao havia mesmo nada nem um pub e continuei para Duntroon onde acabei acampado no domain que ha em quase todas as aldeias: uma relvado posto de lado e normalmente impecavelmente mantido para quem esteja de passagem. Teem quase todos agua, duche e cozinha equipada o que, por $6 é uma pechincha.

Conheço um homem que instalado também no domain que me introduz a uma profissão kiwi: trata-se de um "ferreter". Anda de um lado para o outro a exterminar ferrets (nao sei dizer em portugues (furões?) e possums que e uma peste que eles receberam da australia. De momento o objectivo do governo parece ser reduzir as populacoes, sobretudo porque ambos espalham a tuberculose ao gado. O metodo e montar centenas de armadilhas espalhadas sabiamente pelo campo e ir mudando de sitio conforme os resultados. De qualquer forma, o bom do Nigal e seus colegas ganham entre $1800 e 2000NZ, por semana, para andar por ai a matar os bichos. Actividade permanente, nao havendo periodo de defeso, que diz ele da para viver muito bem, embora fora de casa e comprar brinquedos qb como a Harley que tanto acarinha :)

Oferece-me cerveja e conta como e ser do campo na NZ. Ja fez de tudo desde gado, veados, cacador de de possums para peles, inevitavelmente cowboy de ovelhas. O que gosta mais de tudo, o hobby de fim de semana e cacar javali. Caca com 3 caes, e o javali e morto com uma faca enquanto os caes o manteem ocupado... Aprendi que o recorde do mundo em tirar a pele a um possum e de 9 segundos e que na familia todos conseguem os 11 em pequenas corridas amigaveis, que parecem comecar com um monte de possums mortos e duas caixas de cerveja.

Ja foi a australia mas nao gostou porque tinha moscas a mais. Vivendo nestes campos de domain quando trabalha, descobriu um gosto por conversar com estrangeiros e fez-me imensas perguntas sobre Portugal, essencialmente sobre os animais que temos e o que e que cacamos, mas tambem sobre os nossos 4x4 e motos... So nao gosta de alemaes, que diz se queixam muito, e de israelitas que fazem muita porcaria.

A coisa mais importante que me explicou e que a chuva comeca em Milton, mesmo antes da terra dele. Eu que ja tinha duvidas quanto a ate onde deveria dexer antes de cruzar os alpes para a costa oeste, acho que comecei a ouvir a resposta.

Mt.Cook - Omarama; 96.9kms

Fevereiro 24

Arranquei relativamente tarde porque quiz deixar secar a tenda depois das chuvadas nocturnas, e pude faze-lo porque estava uma manha linda embora com ameaco de vento SE (ou seja do contra, para variar). Numa tentativa de avancar o mais possivel antes do vento virar, larguei depressa e fui tomar o pequeno almoco ao heliporto 25 kms mais abaixo, ja ao lado do lago.

Acabou por correr lindamente e, com um dia de descanso nas pernas, a media melhorou bastante. Estava mesmo a correr tao bem que decidi ir directo ate Omarama em vez de dormir em Twizel. Calhou bem porque havia o campeonato nacional de remo em Twizel e nem uma cama onde dormir num raio de 30 kms.

Nao me apetecia uma quarta noite seguida na tenda e acabei num backpacker's meio espelunca mas mesmo assim com condicoes aceitaveis: aproveitei para lavar toda a roupa de uma vez, para ver se deixo menos rasto :)

Com estes quase 100kms, acabei a travessia do high MacKenzie country e amanha comeco a descer para a costa ao longo do vale do Waitaki. Espero passar um par de dias em Oamaru, primeiro sitio mais "urbano" desde Christchurch, onde poderei repor os meus stocks e dar uma revisao a bicicleta sem ser com um olho no tempo.

Como estava a fazer o jantar em ambiente demasiado calmo, apraceram dois casais de Australianos que estavam a dar a volta a ilha em duas semanas com motos alugadas. Divertidos, e com informacoes interessantes para trocar. Ha imensas motos a vaguear pela NZ, mas alugar custa no minimo 130 euros dia... Disto isto e um dos melhores sitios que ja vi para viajar de moto.