Monday, April 2

Havelock - Picton; 36,7kms

Abril 02

So saio de Havelock a meio da manha. Um pesado ataque de preguica deixa-me estendido num "transat" a beber cha ao sol no deck do backpacker. A verdade e que poucos quilometros me separam do fim e falta-me coragem para acabar com a minha existencia de vagabundo auto-movido.

Dificilmente poderia ter pedido um melhor dia final para a viagem. Marlborough Sounds e uma enorme zona de mar abrigada, toda ela retalhada em finos "recortes", que fazem muito lembrar fjords torcidos. E tive ceu aberto, simplesmente decorado com meia duzia de cumulus fofinhos, uma leve aragem, e temperatura sempre fresca.


A estrada segue o rendilhado da costa densamente florestada, num sobe e desce que me faz trabalhar, mas hoje nao incomoda. Antes pelo contrario, pedalo forte nas curvas e contra-curvas para gozar o caminho. Como que para melhor sentir e gravar em mim a memoria desta viagem cujo fim acabo por acelerar.

Paro imenso para encher os olhos, tirar uma fotografia, observar a descolagem de um pequeno hidroaviao, ou a manobra de um barco.

Ha duzias de pequenas baias e enseadas polvilhadas de barcos fundeados. De vez em quando surgem diminutas praias douradas, como leves pinceladas de cor entre o verde forte da floresta e o turquesa da agua.
A estrada e tao enrodilhada que cada curva oferece uma perspectiva diferente, descobrindo mais um local escondido atras do proximo promontorio. Ha grupos de casas a beira-mar, e outras plantadas em andas a meio das enocstas escarpadas. De longe o meio de acesso mais eficiente sao os "watertaxis", rapidas lanchas de aluminio. Um paraiso maritimo, e ainda por cima no meio da zona mais solarenga da NZ.


Chego depressa demais a Picton, que e uma vila que nao seria nada nao fosse ser o porto onde chegam os ferries da ilha do norte. Trato de me instalar no quarto de hoje, despachos os afazeres domesticos e vou afogar as magoas (e repor calorias) com um solido "fish and chips".

Sem os quilometros diarios, ou mudo rapidamente de habitos alimentares ou vou arredondar muito depressa :) Amanha apanho o barco para Wellington onde vou passar a semana. Tenho curiosidade de finalmente ver uma verdadeira cidade kiwi, e ha imenso para visitar e fazer, mas mesmo assim ja estou com saudades de andar na estrada aberta.

Sunday, April 1

Cable Bay - Havelock; 64,9kms

Abril 01

Dificil arrancar de Cable Bay e dizer adeus ao Nick e a Jenny. Cada vez que me levantava, havia outro assunto de conversa que descolava, e estavamos a meio de discutir alternativas de enchimento de superficie de cascos quando a Jenny, nos lembrou que eu tinha de chegar antes do por do sol.

Ataquei Whangamoa Saddle que subia bastante mas de forma razoavelmente gradual, e logo a seguir mais uma portela menor. Uma hora e meia depois ja tinha o pior para tras e era so descer ou plano ate ao meu poiso para hoje. A estrada era bonita, esta zona e florestada por pinheiros muito grandes e a topografia cada vez mais "elaborada" a medida que se entra em Marlborough Sounds, da-lhe muito interesse sem criar demasiadas quebras de ritmo.

Paro em Pelorous Bridge para encher o "deposito" de bolos, cafe, quiche e gelado. Um casal de australianos quarentoes metem conversa por causa da bicicleta. Sao cicloturistas ferrenhos mas que este ano fazem ferias de carro porque ela engravidou de surpresa, e pela primeira vez, aos 40! Conversa puxa conversa e o meu "pitstop" acaba por se converter num almoco demorado mas muito engracado.

So para ver, decido acelerar os ultimos 20 kms ate Havelock, e as minhas pernas agora muito descansadas surpreenderam-me. Quase sempre acima dos 25, e longos momentos nos 28-30! Agora que finalmente construi uma base de forma decente, tenho pena de a perder. Tenho de arranjar solucao.

Amanha, so me faltam fazer 35 kms e estarei em Picton, o porto de onde sai o ferry para a ilha do norte. Na practica, e ai que acaba a viagem de bicicleta. Ja comecei a estranhar nao ter mais caminho para planear, mais kms para passar.

Nelson - Cable Bay; 24,5kms

Marco 30 e 31

Em pouco mais de uma hora estou em Cable Bay. E finalmente, tive o primeiro incidente mecanico: parti nao um raio, mas um "nipple" (as pequenas pecas que prendem os raios a jante). E claro que tinha de ser na roda de tras, e do lado da transmissao (sao os mais stressados por causa da assimetria de tensao). Nao e grave mas obrigou-me a extrair a cassette para substituir nipple e tambem o raio, cuja rosca nao estava em estado de ser re-utilizado.

Que spot! Estou instalado numa "cabana" no jardim de uma das casa mais bem localizadas que alguma vez vi.

Um alto em cima do mar, com janelas enormes cheias da vista de um pequeno estuario, a ilha de Pepin, e o mar aberto emoldurado de um lado pelas falesias da costa de Malborough Sounds. Um autentico jardim recreativo para pequenos barcos.



E depois eles teem dois barracoes cheios de kayaks variados e pequenos barcos de varios tipos. No meu dia de anos, damos meia volta a ilha com pouco vento mas um swell enorme, vemos focas a fazer a sesta, passaros e a vista incomparavel do mar e da ilha e dos passaros. Fazemos algumas passagens entre os rochedos, algo intimidante dada a rebentacao, e consegumos aterrar numa pequena enseada de calhau para esticar as pernas e comer. Tudo isto impossivel sem a enorme experiencia, e conhecimento intimo do local, do Nick. Um ex-Schlumberger com quem me dei lindamente, e um homem com uma vida de experiencia em tudo o que tem a ver com o mar, desde navios scientificos no mar do sul, a plataformas de petroleo, catamarans e canoas Aprendi imenso com ele sobre tantos assuntos em torno de estar no mar. Desde meteorologia, a concepcao de barcos, planeamento e gestao de risco em passeios de kayak, construcao etc.

A volta tenho direito a meia hora de instrucao em surf com kayak. Felizmente as ondas sao pequenas, porque nao e nada obvio com um enorme kayak de mar de 5 metros. Viro-me varias vezes, ate finalmente conseguir acertar com o "timing" e a tecnica de apoio na onda com o barco atravessado. Girissimo e o tipo de experiencia que nunca conseguiria adequirir sozinho. Unico ponto menos positivo foi ter pisado varios ouricos, com o qual passei uma parte do serao a escavar os pes para tentar tirar os picos...

Na manha seguinte fui "largado" num kayak mais desportivo dentro do estuario e fui brincar sozinho com o vento bastante forte. Fazer experiencias de equilibrio direccional com um casco que em vez de leme tinha um "skeg" ajustavel. Nunca tinha usado um barco assim e fiquei completamente conquistado: leve, manobravel, nervoso, mas tambem se consegue uma estabilidade direccional "de comboio" com afinacao do skeg, sem as complicacoes e vulnerabilidades dos lemes.

Com o tempo a estragar-se outra vez, passei a tarde e o serao a discutir barcos com o Nick e acabei convidado para jantar em casa deles para celebrar os meus anos! Simpaticos, ofereceram-me um livro do Bruce Chatwin que ha anos queria ler.

Resumindo, "my kind of place and people". Tive pena de nao ficar mais, e continuar a aprender.

Nelson

Marco 28 e 29

Encalhado em Nelson pelo mau tempo, uma frente lenta e fraca que mesmo assim encharca tudo. Nao tenho tempo suficiente para chegar a Motueka e voltar, mas tambem nao vale a pena ir ate Cable Bay para ficar la fechado dentro de uma pequena cabana.

Fui ao cinema para variar, e vi um filme sueco sobre musica numa pequena aldeia! Passei uns tempos nas livrarias a ler e cobicar livros. Consegui resistir, mas se a chuva se mantiver vou seguramente ter problemas de peso outra vez :)

Felizmente ha gente interessante no backpacker e vamo-nos entretendo entre conversa e idas ao pub.