Mudei de pais, mas nao de clima! O dia comecou com chuva pesada de madrugada que foi esbatendo um pouco ate que, como disse o suico ao despedir-se "it could be worse". Como ele tinha toda a razao, fiz-me tambem a estrada neste novo sitio.
E impressionante, de repente estou num ambiente quase tropical. Nao fora o fresco/frio poderia ser o Brasil ou a Tailandia :-( A estrada corta uma floresta de uma densidade espantosa com fetos e arbustros mais altos do que eu e arvores gigantescas.
Ha agua e humidade por todo o lado. Rios, ribeiros, riachos, cataractas, cascatas, lagos, lagoas, pocas e pocinhas, chuva, chuvisco, neblina, nuvens muito baixas e nuvens normais e ceu encoberto. A medida que a temperatura sobe ligeiramente ha ainda vapor a subir do meio da vegetacao. E quando ganha balanco para chover, e mesmo chuva de pais sub-desenvolvido :)
Resumindo, nao admira que seja tudo verde, e que esteja recheado de insectos devoradores de ciclistas.
Como sempre, a satisfacao tem muito a ver com expectativas e eu comecei a manha a espera de uma autentica prova de resistencia com sofrimento, vento, trombas de agua e colinas grandes para subir. Resultado, tive um dia fantastico porque so chovia de vez em quando, e nao com muita forca, nao dei pelas subidas, e embora o vento estivesse do contra era bastante fraco.
Adorei o jogo da neblina e vapor nas montanhas e falesias. Apreciei os lagos de ambiente "Arturiano".
O mar, quando finalmente a estrada me levou a ele, estava de um chumbo claro, e batia pesadamente nas praias de areia negra ou pedragulhos. Arvores esbranqueadas pelo mar jaziam a beira mar como esqueletos de animais pre-historicos. E as falesias caem na agua floresatadas ate quase a linha da mare.
Foi-me surgindo uma grande misturada de impressoes na cabeca: bocados de costa escandinava a mistura com a da Tailandia, estrada na montanha que me recordavam a descida das alturas Bolivianas, os vapores no verde de tantos filmes sobre a Amazonia (alguem ainda se lembra da Missao?) E ainda ha os rios que jorram com rapidos e mais abaixo criam vastas extensoes de pedragulhos brancos como os rios mais maduros no Himalaia.
O outro problema, para mim, que e a baixissima densidade populacional tem tambem o seu encanto no pouco transito, ausencia de sinais humanos e silencio. E so a estrada a cortar a floresta, e o leve zumbido da bicicleta no alcatrao e na agua.
Ha pontes em lugares fantasticos, quase sempre so com uma faixa em que toda a gente tem de esperar "horas" ate que eu chegue ao outro lado para poderem passar: um momento de pequeno poderio, em que eu e a bicicleta temos a ponte toda so para nos :) Devia haver duzias de pescadores e gente a fazer documentarios nestes sitios mas so estao os passaros. Incluindo os kea's de ma raca que aqui voltam a aparecer em bandos.
Kea's sao papagaios pestes: gostam de roer borracha e aparecem aos gritos de madrugada. Nem teem a decencia de ser discretos. Ha historias de rasgarem tendas para chegar a comida, e frequentemente estragam carros porque arrancam as borrachas que vedam os vidros. Eu tambem ja tenho dentadas de kea nos punhos da bicicleta. Ainda por cima nao teem medo de humanos. Houve uma manha em Mt.Cook que passei meia hora aos pulos no frio a atirar pedras aos keas, furioso meio nu no gelo.
E para rematar, encontro um pequeno motel num sitio que nem no mapa 1:250,000 aparece, onde alugo uma cabana. Nesta costa isto e a salvacao: a qualquer paragem de mais de 10 segundos, os sandflies atacam e nao estou a exagerar. Pago cada paragem para tirar uma fotografia em dentadas. Isto torna acampar e muito complicado, porque nao consigo cozinhar dentro do espaco fechado da tenda...
A porta da minha cabana de manha encontrei: